Entrevista: Luiza Barcelos

Acho que todo mundo que visita o blog há algum tempo já percebeu a minha paixão por sapatos. Amo mesmo, é a peça em que mais gasto dinheiro, acho que nunca vou ficar satisfeita… Por mais que eu compre, incrivelmente sempre cabe mais um!
E o que começou essa história toda foi um par que comprei numa loja que não existe mais… Ainda estava no colégio e juntei não sei quantas mesadas para comprar um sapato que namorava há tempos: salto altíssimo, couro mostarda (amo a cor!), tachas nas laterais. Era um Luiza Barcelos, que até hoje fica no meu armário, mesmo eu não conseguindo usar… Sabe como é, eu não sabia calcular o salto naquela idade, mas ele é lindo até hoje, 10 anos depois =D
Fiquei super feliz ao ter a oportunidade de entrevistar minha xará Luiza (que também estudou na UEMG, olha só!), estilista da marca que leva seu nome. A empresa foi fundada pela mãe de Luiza, Dorinha Barcelos, que comprou uma fabriqueta e em poucos anos profissionalizou a produção, convidando cada um dos filhos para liderar uma das áreas da empresa. Hoje são duas fábricas, uma aqui em BH e outra no Rio Grande do Sul, 200 funcionários e milhares de mulheres apaixonadas a cada coleção!

Como você se tornou estilista da marca? Qual a sua formação?

A marca Luiza Barcelos foi fundada for minha mãe, Dorinha Barcelos, nos anos 1980. Eu estudava decoração na antiga FUMA (hoje Escola de Design da UEMG), quando mamãe teve algum problema com a então estilista da empresa e disse que eu passaria a desenhar os sapatos. Na hora, insisti que era decoradora, mas, por coincidência, quando cheguei em casa havia uma carta da UFMG oferecendo um curso de sapatos. Com a consciência um pouco pesada por ter respondido mamãe, resolvi fazer o curso para ver se gostava e a minha primeira coleção acabou sendo criada lá. Isso foi há mais de vinte anos.

Qual o tempo gasto no desenvolvimento de uma coleção? Pode explicar o processo?

Lançamos duas coleções por ano, mas gasto muito mais de seis meses para fazer cada uma, pois contabilizo os anos absorvendo e processando informações a que estou exposta.
Essa pesquisa informal casa com uma outra, mais sistemática, feita principalmente em material antigo da própria Luiza Barcelos.
Vem então a definição do tema, que, na atual e nas quatro últimas coleções, tem sido relacionado ao posicionamento estratégico da empresa.
Junto com uma equipe de cerca de cinco pessoas, faço os desenhos, que são enviados para nosso centro tecnológico, lá em Campo Bom (RS).
As maquetes feitas no Sul são trazidas para a fábrica aqui em BH, para o calce. Nesta etapa, eu quase refaço os modelos, colocando meu traçado de curvas bem femininas em cima das maquetes. Esse é um dos diferenciais dos sapatos Luiza Barcelos. O outro é a matéria-prima. Como a cadeia de fornecedores não tem um preparo adequado, os materiais que usamos são desenvolvidos exclusivamente para nossa empresa.
Com as maquetes corrigidas, colocamos as combinações de cores, uma etapa que exige esforços tremendos. Finalmente, as amostras são feitas em ateliês de parceiros e são entregues geralmente na véspera das feiras. Aí vem a aprovação do nosso trabalho. Pelo resultado das vendas para lojistas, as amostras retornam ao Sul para que sejam feitas as escalas e depois voltam pra BH, para a produção dos produtos que vão pras lojas.

Como é definido o tema de uma coleção?

A inspiração para o tema pode ser um sentimento, uma imagem que me marcou ou mesmo o momento da empresa, como tem sido há quatro coleções. Quando a Luiza Barcelos completou 20 anos e eu, 40, fiz para o verão 2009 uma coleção que resgatou a história da marca e também as minhas próprias lembranças, que se chamou Décadas de Luiza. Em seguida, a coleção Essência de Luiza, para o inverno daquele ano, investiu nas características mais verdadeiras da marca, a despeito de “modismos”. No verão 2010, me inspirei nos sonhos, tanto os da marca quanto os das consumidoras. A atual coleção, de inverno, chama-se Concreto, pois celebra a realização desses sonhos e também a construção da nossa primeira loja, que foi inaugurada em meados do ano passado no shopping Diamond Mall, aqui em BH. A próxima vai se chamar Blindados e é segredo, por enquanto.

O que determinou a mudança nas campanhas da marca, que nas últimas coleções foram protagonizadas por mulheres reais e não por modelos?

Essa mudança tem a ver com esse processo de autoconhecimento da marca desenvolvido nas últimas quatro coleções. O verdadeiro está na essência da marca Luiza Barcelos e queremos estar sempre próximos da realidade das consumidoras, de seu cotidiano. Achamos que o mundo dos desfiles e das modelos está muito distante.

Como funciona a parceria entre a Luiza Barcelos e estilistas para o desenvolvimento de sapatos para desfiles de outras marcas?

A última parceria foi com o Ronaldo Fraga, há uns dois anos. Viu a descrição do desenvolvimento de uma coleção? Imagina fazer quase duas ao mesmo tempo! Por isso, não temos feito parcerias. É um processo que exige muito de nós e nossa prioridade é criar os sapatos próprios da marca para atender nossas consumidoras.

Quais os modelos best-sellers?

Temos uma cepa de madeira em “x” que é um sucesso, assim como uma outra gigante, também em madeira e em acrílico. Os sapatos bordados também são best-sellers, até porque a Luiza Barcelos foi a primeira marca a bordar sapatos, tanto a mão quanto a máquina. Outros exemplos são os tamanquinhos holandeses e aqueles pintados a mão.

Obrigada Luiza! Foi um prazer conhecer um pouco mais sobre a marca e seu processo criativo =D