Já faz alguns anos, mas não consigo parar de pensar em Taís. Vez ou outra congelo meu olhar em qualquer cena desimportante e lembro da moça, no mesmo momento em que meus olhos involuntariamente se enchem de lágrimas. Taís me marcou.
A conheci no avião. Eu, muito mal humorada, depois de aguentar na primeira escala de vôo, um bêbado que havia tomado várias doses de whisky para conseguir controlar seu medo de altura. Ela, carregando uma mochila rosa choque, um Ipod colorido e um sorriso sem-graça. Pediu licença e sentou no assento da janela. Agradeci por nessa próxima escala, não ser outro chato, uma senhora tagarela ou mais um bêbado. Era só uma mocinha tranquila, sem muita maquiagem no rosto, que não se importaria se eu fingisse de muda e fôssemos até Recife como duas estátuas.
Eu lia um livro com o título “Por Falar em Amor”, da Marina Colassanti. Dez minutos de vôo, um cutucão e… “Ei, posso te fazer uma pergunta? Reparei seu livro. Se você perdesse tudo da sua vida, ainda assim, você acreditaria no amor?” Levei o maior susto. Só podia ser alguma pegadinha. Abobada, procurei as câmeras. Ela falou comigo, e me olhava, esperando uma resposta. Improvisei: “Oi? Ué… Amor, amor mesmo? Acho que não. Será? Ah, possivelmente sim. Não sei. Me desculpe, não sei responder, por que?”. Estávamos só decolando e ela começou a chorar.
Desconcertada, perguntei o que estava acontecendo, pedi desculpas, mas disse que para ajudá-la precisava entender. E como quem conta o que comeu no almoço ontem, ela soltou: “Meu nome é Tais, desculpa. Que vergonha. Me desculpe por chorar, é a primeira vez que ando de avião e isso me emociona porque meu marido ficaria muito feliz se estivesse comigo. Ele morreu em maio”, e me mostrou no seu celular fotos dos dois juntos no casamento, na lua de mel, na praia, no carnaval de Salvador, na formatura da prima. Meu Deus! Como aquilo começou a me doer. Era como se sem querer uma voz esganiçada repetisse no meu ouvido “e ela só deve ter uns 20 anos, e ela só deve ter uns 20 anos, e ela só deve ter uns 20 anos”. Engano meu. Ela tinha 19, casou com 18.
Foi difícil não notar que a barriga de Tais estava como uma barriga de grávida, mas não ousei perguntar. Se havia alguém ali que ganhou a opção de se intrometer na vida do outro, era ela na minha. Perdi todos os meus direitos como ser-humano sofrível. Nesse momento, eu era a Cinderella, morava no paraíso e meu mundo era colorido como o dos Ursinhos Carinhosos. Ficar calada e escutar era a coisa mais humana que eu poderia fazer. Nos 90 minutos de vôo, me rendi a ouvir várias histórias bonitas do casamento. Ela se emocionava e chorava baixinho, escondendo educadamente a tristeza enorme que tinha no peito.
De repente, o assunto surgiu. “Você já deve ter notado a minha barriga, perdi nossa filha faz um mês, e ainda não estou totalmente recuperada. Ela ia nascer saudável, mas a médica que estava de plantão no hospital, não era a minha que acompanhou toda a gravidez e se NEGOU a fazer o parto. Minha bolsa estourou e a criança não suportou esperar. Estou processando o hospital. Olha, nasceu morta, mas tirei uma foto. Maria Clara, olha só”, mostrou. E nessa hora eu chorei. Não deu, pedi arrego. Eu cedi e chorei. Eu quis muito que o avião descesse e senti uma vontade imensa de gritar pra todo mundo o quão ridícula eu era por já ter sofrido por amores que fisicamente existiam na minha vida. Não foi o destino e muito menos Deus que quis me dar uns belos socos no estômago e a colocou ao meu lado no avião, como quem diz: “Viu, Marcella? Sua sofredora de uma figa! Isso que é sofrer de verdade!”
Não. Não foi nada disso. Foi só a aeromoça que nos sorteou em qualquer assento, pouco preocupada a que passo andava nossos corações. Acontece, coincidências da vida. Dois anos se passaram e eu continuo pensando o que é isso que às vezes chamo de desamor. Me odeio muito por ser fraca e depositar lágrimas em coisas tão pequenas. Depois de tudo que ouvi de Taís, de todos arrepios que senti, francamente: “sofrer” porque o cara não liga, porque o namoro acabou, porque fomos trocadas por outra mais interessante, pode até ser sofrimento. Mas não passa de sofrimento de luxo.
Ela levou de mim o abraço mais sincero quando pousamos em Recife. E se eu a visse de novo, em qualquer esquina do mundo, responderia: acho que existe amor sim, Taís. E torço para que você encontre de novo e do mais puro, pelo resto de sua vida.
Gente do céu… sofrer é a treva né…
Eu terminei meu namoro esse ano, eu mesma terminei, terminei amando, foi horrivel, nunca passei por isso, chorei kilometros… mas sempre me pergunto… e quando alguém leva o seu amor e não tem mais volta?
Deve ser o fim do mundo… nem consigo imaginar… torcendo por essa moça ^^
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Demais!!!!!!! Parabéns Marcella, por conseguir transmitir em palavras toda a emoção que você sentiu naquele momento!
A vida da volta e só o tempo para fechar um ferida.
Sempre achamos que nossa dor é maior que a dos outros, até nos depararmos com outros tipos de sofrimento, lembro que uma vez minha mãe ao consolar uma amiga que perdeu um filho em um acidente disse algo que nos fez acreditar que ela poderia “superar” a morte do meu irmão que foi assassinado ela disse a seguinte frase: -Eu sempre acreditei que a minha dor era pior do que a de qualquer outra mãe, porque meu filho foi arrancado de mim de forma brutal, violenta, mas não, hoje eu entendo que a dor de perder um filho é igual de qualquer forma!! Os sofrimentos são doloridos para quem sofre, eu me emocionei com seu post hoje, nunca tinha comentado aqui sempre passo leio e saio sem deixar rastros, mas hoje esse post me colocou em uma posição de sentir a dor do outro, já me perguntaram se eu posso viver sem meu marido e eu sempre respondo: – Poder eu posso, mas eu não quero viver sem ele!!
Toda força para Taís superar a morte do marido e da filha!!
Não sei se existe sofrimento de luxo. Obvio que a história da menina é triste. Mas cada um sabe como as coisas ao seu redor te afetam. Você pode sofrer tanto quanto ela, mesmo que o “motivo” do seu sofrimento pareça “pequeno” perto do motivo dela.
Nossa…. ler este post me fez pensar o quanto boba sou na maioria das vezes, me preocupo, fico triste, magoada por coisas tão pequenas se comparadas com esse relato…. Como diz meu terapeuta “A dor faz parte da vida o Sofrimento é opção… É preciso parar 5 minutos e olhar para os lados, assim vamos perceber que nosso “problema” não é tão grande como parece….
Estava sentindo falta dos textos da Marcela, podia ser semanalmente né?
Quando a esse, foi aquele tipo de texto que a gente lê sem respirar, que sente o que está escrito.
É de uma delicadeza e uma profundidade incrível, parabéns!
Nossa, perfeito!
Tudo que rh precisava ler hoje.
Me emocionei… É de verdade essa história? Se for, tomara que ela consiga recolocar a vida em ordem, porque já sofreu bastante né?
Muito tocante esse texto.
Simplesmente lindo! Adorei!
Uau
OBRIGADA!!
Nada mais merecido por mim que ler esse texto hoje, agora!!
Obrigada, mais uma vez!
Lindo e emocionante!
Nossaaaaaaaaaaaaa! Que lindo meu Deus!
Ao ler essa bela Crônica, me lembrei de um fato que ocorreu a pouco mais de 2 semanas…
Meu nome é Josiane. Moro em Montes Claros – MG. To pertinho de Bh. rsrsr
Canto em Casamentos há anos, na minha cidade… Cantei num casamento dia 22 de Novembro. Os noivos bem jovens… Ela uns 23 anos, ele, 29… 8 Anos de namoro e apenas, SIM, EU DISSE APENAS 23 dias de casados! O noivo acometido por um câncer, não resistiu. E, após um casamento LINDO, ele se foi para junto de Deus! Sem contar que o mesmo, perdeu a mãe e a irmã, acometidas pela mesma enfermidade nesse ano! A mãe faleceu em janeiro, a irmã em agosto, e agora ele… A dama de honra que entrou com as alianças, entrou, carequinha (também com câncer, uns 10 anos de idade).
Agora eu me pergunto: Onde estão nossos problemas? Eles verdadeiramente são problemas?
Cantar em casamentos, além de profissão, é um GRANDE aprendizado para mim! Deus me ensina muito!
Obrigada, meu Deus!!!
Josiane Simões – Montes Claros – Mg
Eis aqui o nosso Grupo:
https://www.youtube.com/watch?v=BEU9pqJE-ig
Deus abençoe a todos!
Impossivel nao chorar, sinto muito.
Tais existe amor sim, e um dia se Deus ainda nao te permitiu te-lo tenha fé que ele ira chegar. Seu marido e sua filhinha sao anjos e estao sempre ao seu lado!!!
Ui, me arrepiei… Esta história é real? Muito triste. Mesmo que não seja, sei que fatos assim acontecem diariamente. Perdi uma sobrinha este ano, Maria Clara. Nasceu prematura, e viveu por 40 dias somente… e depois disto, repensei meus sofrimentos de luxo. Realmente. Aprendemos a valorizar o que interessa. E agradecer cada momento feliz que a vida nos traz.
que lindo, obrigada pela historia :)
Chorei também! Como não chorar ao saber que, se eu puder comparar, nunca sofri…
Lindo texto! Marcella Brafman: Guardarei este nome.
É incrível como só percebemos o quanto nosso sofrimento pode ser pequeno quando nos deparamos com o de outra pessoa. Até a dor que sentimos parece se envergonhar de existir.
Na minha pobre lógica, não existe sofrimento por amor, mas sim por “desamor”. A partir do momento que alguém acha que não é mais amada ou não pode ser querida pela pessoa desejada é que começa o sofrer. Obviamente, é uma tristeza imensa, mas nenhuma dor se compara a da perda causada pela morte. É como se tirassem todas as coisas boas de dentro da gente e restasse apenas o vazio.
Que belo texto! E que a Taís e todos nós acreditemos que mesmo perdendo tudo, o amor sempre resta e sobrevive!
Marcella não a conheço, mas parabenizo seu texto, sua maneira de enxergar a dor do outro e a sua lucidez para a vida.
Pouco curto blogs de moda, mas hoje quis entrar aqui. Seu texto me emocionou. Lindo o que voce escreveu. E quanto a Taís, torço de coração, para que sua dor seja superada e ela encontre novamente o amor…
Chorei! Belíssimo texto Marcella! Que lição!
Nos faz refletir… Muito bom!
Nossa que profundo, muitas vezes nem paramos pra pensar que existem pessoas que estão sofrendo ou sofreram mais que a gente e que nosso sofrimento perto de outros são realmente sofrimento de luxo. Lindo
Me emocionei, texto tocante. Classificar ou medir sofrimentos é uma coisa complicada, afinal é tudo muito subjetivo e cada um sabe a cruz que carrega. Mas realmente existem experiências pelas quais o ser humano pode passar que são verdadeiramente devastadoras.
http://www.blogamorreal.com.br
Não tem como não terminar com [no mínimo] os olhos cheios de lágrimas…
Geralmente os posts não contém textos longos, crônicas, tá aí, gostei!
Talvez uma retificada no “doses” e Ursinhos” Carinhosos” fosse ok?
Só sugestão mesmo.
Atc,
Excelente reflexão! Parabéns pelo texto, Marcela!
Espero que a Thais tenha conseguido recompor sua vida!
O que mais me chocou no texto foi o facto de a médica se negar a fazer o parto, e ao ler os comentários fui novamente chocada por ninguém comentar esse “detalhe” e ainda haver mais um relato de outro médico com posição similar.
É tão comum assim no Brasil um médico se recusar a atender um doente para tal facto ser tratado com tanta indiferença?
Uau, Marcella!
Como você escreve bem.
Ler seus textos é sempre um aprendizado.
Nossa…..! Pra refletir “muito”!
Meu Deus, como às vezes somos tão fúteis e indiferentes, com tantas coisas acontecendo no mundo…Você fez bem em ouví-la…è tudo que podia fazer por ela…
NOSSA…impossível não repensar a vida diante de histórias assim, né? Acho que talvez esse seja o grande segredo para a felicidade, aprender a lidar com as adversidades, se adaptar, se reinventar…
todo o amor do mundo para a Taís, que eu nem conheço, mas já considero pacas, MESMO!
(bem que ela podia ser leitora do blog e dizer pra gente que tá tudo bem ou que pelo menos ela pudesse se sentir um pouco confortada pelos comentários, né? =\)
Beijos, Marcella, tu arrasa nas crônicas! =*
Lindo e emocionante demais!
LU Que história mais comovente, verdade muitas vezes achamos que os nossos problemas é sempre maior que os dos outros.
Chorei junto!!!!
Uau.. me emocionei aqui.. E tudo que vc disse é a mais pura verdade.. Chega de sofrimento de luxo..
Marcela,
Seus textos são sempre muito lindos, mas esse em especial me emocionou e me tocou profundamente.
Essa semana tive duas (pequenas) decepções, que pareciam a maior do mundo, mas ao ler esse texto realmente “não passa de sofrimento de luxo”, obrigada por dividir este texto tão lindo e tbm por me fazer ver o quão boba sou, e mais ainda aprendi a não ficar me queixando de coisas pequenas.
Parabéns Marcella !!! Adorei o texto. Chorei também !!!
nossa que história triste e emocionante, realmente as vezes sofremos por coisas bobas , que pensamos ser o fim do mundo, fica para nós a lição de vida
Que lindo.. Que simplesmente lindo.
Amo os textos e amo as gravuras também. Os desenhos são sempre lindos!
Emocionante!!
Alem de chorar litros, me faz reforçar a necessidade de me permitir viver sem tantas amarras!
Que lindo Marcela! Chorando aqui tb… e rezando pra que Tais esteja e seja muito feliz!
Oi! Sou leitora do blog há anos, mas é a primeira vez que comento. Este texto me fez parar e pensar no quanto sou boba por sofrer por coisas pequenas. Preciso ser mais forte. E que a Taís esteja mais forte também! Beijos
[…] e que existem muitas pessoas com problemas muito mas muito piores que os nossos. Clique nesse post aqui porque vale à […]
[…] Chata de Galocha – Chega de sofrimento de luxo […]
Sempre que estou em algum processo de sofrimento por algo, paro e lembro: tem alguém sofrendo muito mais do que EU neste momento. Isso não deve nos servir de consolo nunca mas, infelizmente a vida é assim. De qualquer maneira, devemos acreditar no AMOR sempre! Bjs e obrigada por compartilhar.
Não costumo comentar em nenhum blog, mas caramba… ando por ai achando que meus problemas são pesados demais pra eu carregar, mas ao ler a história chorei, e continuo chorando só não sei se por ler algo que é realmente triste ou por vergonha de reclamar por coisas tão pequenas…
Meu Deus, que história mais comovente!!! Infelizmente só notamos certas fraquezas sentimentais quando convivemos com um sofrimento muito maior que o nosso! Lindo texto!
Emocionei….chorei!!
Perfeito. vou dormir melhor depois de ler isto, pq a pouco sofria um sofrimento de luxo.
Perfeito a reflexão demais, adoro o q vc escreve ??
nossa me emocionei, que texto!!