Filho é uma tatuagem no coração

Eu ainda não sei o que é ser mãe, mas tenho algumas amigas que já sabem. Fui filha única até os treze anos, e lembro de pedir um irmão exaustivamente para a minha mãe. Sempre que eu podia fazer um pedido, quando soprava vela de aniversário, via estrela cadente ou ganhava na batalha de cisco do olho, pensava: “quero um irmão, por favor, Deus”. Demorou muito, mas ele veio. Mamãe me contou que estava grávida quando me levava para o ballet e nós caímos no choro juntas.
Eu era apaixonada pela barriga dela. O dia que a sua bolsa estourou, estávamos dormindo na mesma cama. Foi o momento mais desesperador e incrível da minha vida. Tive que fazer algumas ligações, ficar calma para não deixar ela tensa e correr para o hospital junto. Vi o parto e o momento que meu irmão veio ao mundo. Foi lindo, lindo.
Também me lembro de quando estava no colégio e uma colega do time de handebol foi fazer uma defesa e a sua blusa levantou, mostrando a barriga um “pouco maior”. Eu só tinha quinze anos, mal tinha dado o meu primeiro beijo e não entendia muito bem. Três meses depois, ela saiu do colégio e perdemos contato. A encontrei outro dia tomando cerveja em um bar e ela me mostrou foto do filho, já com dez anos, e disse que planeja um segundo.
Hoje, um pouco mais velha, tenho amigas que já tiveram os seus primeiros filhos. Casadas, enamoradas, solteiras. Todas foram corajosas e seguraram todos os perrengues até o fim – da mudança de estilo de vida às cólicas insuportáveis. Não teve uma que disse que não passaria por tudo isso de novo.
Eu ainda não sei o que é ser mãe, apenas imagino o quanto seja difícil, cansativo, incrível e ao mesmo tempo assustador. Não espero um mar de flores, mas sei que é uma mudança enorme na vida.
Ser mãe deve ser olhar para aquele ser pequeno enrolado na manta e pensar “putz, ele é tão puro, tão lindo, e veio de mim” ou reconhecer um mini-nariz tão parecido com o seu. É dividir a alegria de aumentar a família com um companheiro ou dar conta de tudo sozinha, afinal, existem tantas “pães” incríveis pelo mundo, né? Deve ser morrer de medo do que vem depois, do que fazer primeiro, como segurar a cabecinha na hora do banho, como trocar a fralda no meio da noite ou como conseguir dormir mais de três horas seguidas. São tantas coisas boas e ruins, mas nunca, nunca, insuportáveis.
Uma frase de um escritor diz que “filho é como uma tatuagem na testa, você precisa realmente ter certeza de que é isso que você quer antes de se comprometer”. Prefiro dizer que filho é uma tatuagem no coração. É aquele momento em que o nosso conceito de amor incondicional muda. Para melhor.

O texto de hoje é inspirado na mamãe do ano, Lu Ferreira, aka, Chata de Galocha.