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Moda

Brasilidade autobiográfica: a arte de Carol Burgo

25.03.2021
Redação Chata de Galocha

Brasilidade. Essa é a palavra que vem à mente ao deparar com o trabalho da artista visual Carol Burgo. E, talvez por isso mesmo, seja tão fácil se conectar a ele e se reconhecer.  

Com uma arte autobiográfica, a pernambucana radicada no Rio traduz suas vivências nos quadros e nas peças autorais da marca Prosa. O resultado é uma composição harmônica de cores vibrantes, feminilidade, natureza e maternidade que, há um ano, mudou o seu mundo particular.

Conversamos com Carol sobre esses elementos que a fazem uma artista tão criativa e que muito admiramos. Confira esse bate-papo:

Você é uma artista no significado mais puro da palavra. É artista visual, designer… Como a arte entrou na sua vida?

Eu fui muito estimulada na infância a manifestar minha criatividade de diversas formas, a me expressar de muitas maneiras. Na minha criação, minha mãe sempre priorizou a liberdade de experimentar. Então tudo que eu me interessava, eu era apoiada a seguir com aquilo. Acabei sempre me interessando por artes, tenho tia artista, madrinha artista, os amigos da minha mãe também são pintores, músicos, artesãos, eu brincava com os tecidos da minha mãe, passava férias pintando com minha madrinha e cresci dentro desse universo. 

Suas pinturas refletem muito do olhar feminino e dá para perceber uma brasilidade nelas. É algo intuitivo ou pensado? 

É interessante falar sobre essa brasilidade nas minhas pinturas, porque eu fui criada em Portugal desde os 5 anos. Não tive referências estéticas de brasilidade ou latinidade até voltar pro Brasil aos 18. Voltar ao Brasil e conhecer artistas latino-americanos que eu não conhecia antes foi um encontro muito poderoso. Eu desconhecia Frida Kahlo, por exemplo. Nunca estudei nem vi o trabalho dela na escola e me emocionei profundamente quando conheci sua obra. Depois fui conhecendo pintores aqui do Brasil, Di Cavalcanti, Tarsila, Anita Malfati e senti essa arte de uma forma diferente de tudo que eu já tinha visto, algo que falava muito mais a minha língua, que trazia uma narrativa muito familiar. Então, acho que intuitivamente essa brasilidade existia em mim, mas estava adormecida por uma espécie de colonização do meu olhar mesmo

Que mensagens você busca passar por meio da sua arte?

Minha arte é bem autobiográfica, mas apesar de ser sobre aquilo que me afeta, tem um componente bem coletivo nos assuntos que eu pinto. Eu busco levar as pessoas a encontrar certos sentimentos dentro de si. Nem sempre a gente consegue expressar aquilo que sente com fidelidade; eu mesma não consigo, então tem coisas que só uma imagem é capaz de traduzir. É isso que eu busco passar com a minha arte: a síntese visual de um processo afetivo.

De que forma a sua marca Prosa e as suas pinturas conversam? 

A Prosa, apesar de ser uma marca de roupas, segue o mesmo caminho das minhas pinturas, no sentido de ser um trabalho autobiográfico. Costumo dizer que, na Prosa, eu crio estamparia afetiva, ou seja, desenvolvo um trabalho que não passa por pesquisa de tendência de moda ou cor do ano da Pantone, mas por questões que me atravessam emocionalmente e que eu expresso em forma de roupa, porque a roupa sempre teve uma importância enorme na minha vida, sempre foi um lugar de fuga, uma forma de eu vestir “armaduras” e defender minhas vulnerabilidades desde criança. Mas hoje eu exponho essas vulnerabilidades na pintura e me visto delas também. É como estar vestida de nudez.

Aqui, Carol veste sua criação para a Prosa.

A Prosa tem uma identidade muito própria. As estampas são facilmente identificadas por quem já conhece a marca. Como foi o processo até chegar nesse DNA tão bem definido?

Foi uma queda de braço comigo mesma. Comecei a Prosa fazendo estampas mais comerciais mesmo, de frutas, flores e tal. Eu estava tateando esse caminho de ter uma marca e me preocupava mais em me comparar com o que os outros estavam fazendo pra vender, do que olhar pra dentro de mim e definir aquilo que realmente fazia sentido para a minha visão. Até 2018, a Prosa não estava exatamente onde eu queria. Em 2019, eu fiz um trabalho terapêutico tão intenso que mexeu com meus eixos e acho que a partir daí eu comecei a levar a Prosa para um lugar mais definido, porque eu mesma estava me levando pra esse lugar. Relutei e me sabotei várias vezes no processo, fiquei insegura incontáveis vezes, mas segui o caminho que fazia sentido pra mim e acho que, enfim, a Prosa adquiriu essa marca visual que as pessoas reconhecem

Como tem sido para você criar artes tão alto astral (estampas e quadros), em um momento como esse?

Tem sido uma forma de sobreviver emocionalmente a esse caos (pandemia & maternidade). A sensação que eu tenho é que eu precisei fazer brotar vida na minha arte para aplacar a morte que tem nos rondado constantemente. 

Quem você gostaria de ver usando a Prosa e um lugar que gostaria de ver um quadro seu? Pode sonhar alto!

Posso sonhar alto mesmo???? Aqui no Brasil gostaria de ver a Camila Pitanga usando Prosa, acho que eu ia ter um treco, e lá fora gostaria de ver a Lupita Nyong’o porque ela é chiquérrimaaaa e eu amo quando ela usa looks estampados e cores vibrantes. Um lugar onde gostaria de ver um quadro meu: no Malba em Buenos Aires. Que museu lindo e cheio de obras maravilhosas.  

De que maneiras a maternidade mudou o seu olhar artístico?

A maternidade mudou a dona dos olhos, isso já muda absolutamente tudo. O que eu pinto, o que eu visto, o que eu escrevo, o que eu sinto. Hoje meu trabalho é impregnado de maternidade porque essa é uma condição pessoal, feminina, mas principalmente política, e como tudo é político, a arte não escapa a esse destino. Acho que a maternidade trouxe mais profundidade no meu trabalho artístico, mais certeza do que eu estou fazendo e mais autenticidade.

Você é uma pernambucana que mora no Rio. O quanto de Pernambuco você carrega no seu trabalho e o quanto do Rio tem na sua arte?  

O Rio me trouxe outros horizontes profissionais que me fizeram inclusive mudar de profissão, deixar as agências de publicidade e tocar a Prosa. Aqui eu também passei por experiências que ampliaram minha visão de mundo e me levaram para lugares afetivos dentro de mim que eu não acessava com facilidade. E ao chegar nesses lugares de dentro, eu encontrei pedaços intensos de Pernambuco, da minha história familiar, das mulheres da minha terra. Então o Rio pavimentou o caminho para eu descobrir meu trabalho e Pernambuco preencheu esse trabalho de sentido, história e afeto.

Para conhecer mais do trabalho dessa artista incrível, siga os perfis dela: @carolburgo, @lojaprosa, @c.burgo_art.

7 Comentários  |  Deixar Comentários

Comentários:
  1. Nattany    27/03/2021 - 07h44

    Eu me conecto demais com a Carol, acompanho desde a época em que ela tinha blog e não sei como eu fui parar lá. Morro de saudade dos escritos dela, mas entendo que as coisas mudaram muito e que agora ela se comunica de outras maneiras.
    Absolutamente TUDO o que ela faz eu to lá pra aplaudir, sabe? É uma das mulheres mais inspiradoras que eu sigo.

  2. Tassia    27/03/2021 - 07h55

    Amei a entrevista gente! Conheço o.trabalho da Carol e inclusive tenho duas peças da da marca dela. Pra mim a arte da Carol abraça. Ela não faz peças de roupa, ela faz um arte onde quando a gente se.veste dessa arte nos faz refletir para o nosso interior. Parabéns pela entrevista gente. 😍

  3. Anna    31/03/2021 - 17h10

    Maravilhoso é ter acesso a Carol Burgo e às criações dela no Instagram e na loja prosa. Realmente preenche de vida esse tempo estranho que a gente vem vivendo. Consumo demaaais conteúdo dela e admiro muito as produções da prosa. É uma das pessoas mais lindas dessa Internet sim!

  4. Marcella Malheiros    31/03/2021 - 17h17

    Carol é uma das pessoas mais incríveis dessa internet. Sou muito fã dessa mulher! Merece o mundo!

  5. Jel Sousa    31/03/2021 - 17h18

    Carol é aquela pessoa que transmite uma sinceridade imensa que faz vc acreditar real no que vê e torcer por ela em cada novo desafio, mesmo sem nem conhecê-la! Adorei a entrevista!

  6. Naualle.lua    31/03/2021 - 17h22

    A Carol transborda arte. É muito incrível olhar dela, a sensibilidade que ela enxerga tudo. Maravilhosa demais

  7. Bárbara    09/04/2021 - 10h55

    Adoro o trabalho da Carol, é permeado de um afeto que toma e joga a gente nesse universo intenso que ela tece em cada quadro, estampa, texto ou foto!

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