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Saúde e bem estar

Comportamento alimentar na pandemia

29.04.2021
Redação Chata de Galocha

Estamos vivenciando uma época em que o cuidado com a saúde e o bem-estar, mais do que nunca, deve ser a prioridade. E essa é uma questão que passa por tantos aspectos que temos procurado sempre trazer esses temas aqui para o Chata e te ajudar a melhorar a qualidade de vida e viver de forma mais saudável.

Dessa vez, vamos falar de um assunto que foi sugerido por uma das nossas leitoras, a psicóloga especialista em comportamento alimentar e pressão estética Lívia Zilli, @liviazilli.psicologa: comportamento alimentar na pandemia. E para enriquecer ainda mais essa conversa, convidamos a nutricionista Luiza Mattar, do perfil @oquehouvecomahouve

Memes x gordofobia

A gente tem visto, desde o início da pandemia, muita gente fazendo memes com montagens de como estará o corpo até o fim da quarentena, sempre relacionadas ao ganho de peso. E são muitos os problemas em torno disso. 

Luíza destaca a relação que a sociedade ainda faz entre ganho de peso e fracasso: “Infelizmente nossa cultura ainda associa o ganho de peso à falta de vergonha na cara, à preguiça, ao fracasso. A verdade é que estamos todos apenas tentando sobreviver da melhor forma que conseguimos, com o mínimo de surtos possível. E com tantas restrições, de sair, viajar, encontrar pessoas, espairecer, não à toa muita gente preenche esses espaços com a comida. Isso não é, de maneira alguma, motivo para piada”.

Lívia lembra ainda de todas as problemáticas da gordofobia:

“Há um estigma de que pessoas gordas são gordas apenas porque comem muito, sendo que há fatores genéticos, ambientais, metabólicos. É muito mais complexo do que apenas isso. 

Há ainda uma ideia enraizada de que pessoas gordas são sinônimo de fracasso, falta de vontade e determinação, sem contar a concepção de que o significado de beleza é um corpo magro. Por esses motivos, quando compartilhamos esses memes, a representação problemática se perpetua. Não é engraçado e precisamos falar cada vez mais sobre isso, quebrar essa ideia e dessa maneira, diminuir sofrimentos” . 

“Vale lembrar também que esses memes ridicularizando corpos gordos causam mal estar em pessoas (gordas ou magras) que já tem uma relação conflituosa com o próprio corpo e a alimentação, causando a restrição alimentar e até mesmo o começo ou a manutenção de transtornos alimentares, adoecendo ainda mais uma sociedade que vincula magreza à saúde, beleza e sucesso”.

Comer emocional pode ser positivo

É comum as pessoas ligarem suas emoções à comida. Comem se estão felizes, se estão tristes, ansiosos… E isso não precisa ser algo negativo, sabia?

Lívia explica que a comida tem um componente de afetividade muito grande e que não podemos separar as duas coisas sem termos problemas, porque a afetividade também faz parte de uma alimentação saudável, seres humanos são comedores emocionais e não somente fisiológicos, como os animais são. 

Entretanto, “a comida não deveria entrar em um lugar que não pertence à ela. Não entrar em um lugar de distração, por exemplo. Não entrar na tentativa de amenizar uma tristeza, de uma raiva. É fundamental que a gente entenda melhor a relação com a comida e qual o motivo que nos leva a comer, para que essa modulação não fique desequilibrada”. 

Luíza complementa que o “maior problema é quando comer vira a resposta para toda e qualquer emoção. Quando é nossa única válvula de escape”.

Como mudar comportamentos alimentares na pandemia

Um estudo realizado no ano passado pela ABIMIP mostrou que 70% dos entrevistados perceberam a necessidade de rever e mudar hábitos na pandemia, mas apontavam entre as maiores dificuldades começar “a praticar atividade física” e “ter uma alimentação saudável”. A Luíza dá dicas de como começar a mudar esses comportamentos alimentares, em um momento de tanta instabilidade emocional:

“Acredito que uma parte importante de começar esse processo de mudança, é justamente saber que será um processo e não um evento. Não acontece do dia pra noite. A prática de atividade física influencia positivamente na saúde mental, diminuindo ansiedade e estresse, por exemplo, além de trazer sensação de bem estar”. 

“Uma dica pra ‘ser mais saudável’ é preferir alimentos naturais, aumentar o consumo de frutas, legumes e verduras, lembrar de tomar água e reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados (aqueles com longas listas de ingredientes). Profissionais da área de educação física, assim como nutricionista com foco no comportamento alimentar, podem te ajudar”.

Lívia reforça que alimentação saudável tem aspectos emocionais, culturais, psicológicos, familiares e individuais e precisa respeitar todos esses aspectos. “Alimentação saudável é comer um prato de salada e um pedaço de bolo sem culpa, ou sem punições, respeitando suas preferências e/ou limitações ligadas a saúde”.    

“Exercício e alimentação não devem ser uma punição ou um sacrifício, ainda mais em um momento tão complexo que estamos vivendo. Colocando a alimentação e os exercícios nos lugares de respeito a si mesmo, a mudança pode ser feita de maneira mais suave e tranquila”. 

Por que procurar um nutricionista que trabalhe com o comportamento alimentar?

“Muitas vezes a gente sabe que tem algo errado. Que estamos comendo nossas emoções. Um nutricionista comportamental vai te auxiliar a identificar os comportamentos transtornados e te apresentar ferramentas para diminuir a  frequência e/ou intensidade de tais comportamentos. 

Além disso, o nutricionista vai ajudar a reconhecer as crenças disfuncionais que a pessoa tem sobre alimentação e nutrição e desmistificar certos conceitos.

Também faz parte do tratamento entender como as emoções influenciam na alimentação e, quando necessário, buscar também terapia para ajudar com essas questões”.

Por que procurar um psicólogo especialista em comportamento alimentar?

 “O trabalho desse profissional é acolher essa dor que é tão naturalizada e banalizada nos dias atuais e que podem ser vividas em níveis que nunca entendemos. É também ajudar o paciente a identificar seus sentimentos, entendê-los melhor e dar espaço para que eles aconteçam. 

Aliado a isso, a terapia (e o acompanhamento nutricional adequado, – e também o psiquiátrico, se necessário) visa entender a relação com a comida, como a pressão estética influencia na busca de um corpo perfeito e o que ele significa. E principalmente, com auto conhecimento, auto respeito e auto compaixão, mostra que a busca por um caminho saudável, a vivência do corpo livre da pressão, culpa e ódio é possível”.

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