De todos os mil cantos que essa sala tem, eu sempre olho para o canto que você deixava jogado o tênis colorido. Nunca gostei desse tipo de tênis, mas comecei a achar engraçadinho só porque você chegava cansado da agência e tirá-los era a primeira coisa que fazia depois de me dar um beijo no pescoço. Aquele canto poderia ter o seu nome.
Tudo era colorido igual ao tênis quando você estava por aqui. Quando estávamos juntos, eu não fazia ideia se haviam seis ou sete meses que tínhamos nos conhecido. Mas se perguntarem a quantos dias você saiu por aquela porta, sei dizer até os segundos. Sentimentos bons nos fazem perder a noção do tempo, mas o que é triste não.
Outro dia me peguei piscando os olhos de um jeito forte, como se isso ativasse super poderes que fizessem os três próximos meses de cura para esse vazio que a gente deixou passarem logo, e passarem voando. Dizem que dura três meses, e isso é a maior arrogância que já inventaram. Se para amor não existem regras, para o desamor também não deveria. Mas já que eles dizem que em três meses esquecerei você, eu acredito, só porque preciso de algo novo para acreditar. Tenho preguiça dessa dor e muito medo de sentir mais uma vez. O “mais uma vez” é sempre vinte vezes pior que a primeira “uma vez”. O “tudo de novo” dá um desânimo danado. Saber exatamente o tanto que dói, não diminui a dor.
Chego até a ficar feliz por deixar você ir, pois, pensando pelo lado bom, se não existisse dor, não teria existido você. E essa é a verdade mais pura que posso te contar agora. Ainda bem que existiu você, que me ensinou a amar meio torto. Era um amor meio manco, mas era amor.
O nosso erro talvez eu entenda daqui um tempo. Talvez apareça depois que daqui de dentro você desapareça. Ou talvez nós nunca saberemos em qual momento amor virou obrigação, paixão virou uma lenda e sexo remédio. Usamos o amor como uma armadura, e talvez esse tenha sido o pior dos nossos defeitos. É que amor não é defesa, é entrega.
Sempre que eu olhar para aquele canto da minha sala, vou me lembrar de você. Mas em matéria de coração, vamos ter que te mudar de posição. Vou te tirar do centro, e te colocar em algum outro canto bem escondido. Provavelmente na saudade.
Lindo! Parabéns, Marcella! :)
Que texto lindo! Comovente e de muita sensibilidade! Deus continue abençoando seu talento, Marcella!
chorei que nem uma criança lendo esse texto – podia ter sido escrito por mim, é exatamente pelo q to passando agora. muito obrigada por esse momento, Marcella <3