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Conheça o projeto Arquitetura na Periferia

15.04.2021
Redação Chata de Galocha

Um projeto que visa a melhoria da moradia para mulheres da periferia, por meio de um processo onde elas são apresentadas às práticas e técnicas de planejamento e execução de obras, além de oferecer um microfinanciamento para suas autonomias. Esse é apenas um pequeno resumo do que é o Arquitetura na Periferia.

Quem nos apresentou o projeto foi a Fê Dubal, da Adô, e na mesma hora ficamos empolgadas para falar sobre ele. Nesse propósito em que estamos de dar voz e espaço a mulheres que empreendem, nada melhor do que exaltar também aquelas que empoderam e dão possibilidades a outras.

Para conhecer mais sobre o Arquitetura na Periferia e entender como todos nós também podemos colaborar com ele, conversamos com a arquiteta e idealizadora do projeto Carina Guedes. Confira:

Como surgiu o Arquitetura na Periferia?

O projeto surgiu a partir de uma inquietação da arquiteta Carina Guedes com relação à própria profissão, pois via a arquitetura sempre atrelada a grandes obras ou a demandas das classes mais privilegiadas, enquanto grande parte da população construía a própria casa sem acesso a esse serviço. O primeiro grupo de mulheres foi realizado na Comunidade Dandara durante o mestrado da Carina, em 2013, onde os relatos das participantes apontaram para resultados que iam muito além da melhoria da casa. A partir de então, juntamente com as participantes do primeiro grupo, inclusive a Luh Dandara e a Cenir (nossa mestra de obras) que estão no projeto até hoje, mais pessoas foram somando e desde 2018 somos uma instituição sem fins lucrativos, o IAMÍ – Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação.

A ideia é proporcionar autonomia para mulheres reformarem suas casas. Como isso é feito?

Desenvolvemos um trabalho cujo foco está no processo e não apenas no resultado final. Ou seja, em vez de oferecermos um produto – o projeto da casa, por exemplo – oferecemos conhecimento, trocas e aprendizados. Acreditamos que isso é um dos principais motivos pelos quais conseguimos promover esses ganhos de autonomia e de autoestima. Realizamos um trabalho bem próximo às mulheres, com encontros semanais por cerca de seis a oito meses, em que o processo de planejamento das obras se transforma em um grande aprendizado.

As mulheres aprendem a medir, desenhar, calcular áreas, levantar quantidades de materiais, aprendem também noções básicas de finanças pessoais e ao final escolhem algumas técnicas de construção para aprenderem a colocar a mão na massa. A ideia é que elas desenvolvam as habilidades que mais lhes convém e também descubram aptidões, seja para tocar uma obra, contratar um serviço ou executarem elas próprias. Chamamos de troca, pois ao longo desse processo as decisões são tomadas em conjunto com as participantes, portanto, elas estão constantemente propondo ou demandando novas atividades e processos. Cada grupo de mulheres é único, buscamos respeitar as especificidades de cada participante.

Foto: Lucas Monteiro

Quantas mulheres foram beneficiadas com o projeto até agora?

81 mulheres já foram beneficiadas diretamente, impactando mais de 300 pessoas.

Quantas pessoas estão envolvidas no projeto como voluntárias? Vocês aceitam mais voluntários? Se sim, de que áreas?

Temos atualmente 9 voluntárias de diferentes áreas. Todo início de ano lançamos uma chamada para novas voluntárias em nossas redes sociais, com a proposta de que fiquem conosco durante o ano inteiro. Atualmente, temos demandas nas áreas de arquitetura e urbanismo, comunicação, serviço social, psicologia, engenharia civil, economia e administração. Mas com o crescimento do projeto, esperamos que esse time seja cada vez mais multidisciplinar, pois trabalhamos com a mulher sob uma perspectiva holística, entendendo a sua totalidade.

Como funciona o microfinanciamento que vocês oferecem?

Criamos um fundo, com recursos arrecadados em editais e prêmios, que é exclusivo para os empréstimos. A partir das oficinas de finanças pessoais que fazemos com as participantes, elas próprias descobrem se podem comprometer sua renda com um empréstimo e quanto elas poderiam pagar por mês caso optem por ele. Em uma atividade que chamamos de “jogo do banco comunitário”, elas negociam entre elas e conosco, a partir dos valores que temos disponíveis para o grupo, quanto que cada uma vai pegar de empréstimo e qual será o valor das parcelas. Não cobramos juros, pois a ideia desse microfinanciamento é mesmo de alavancar as obras. Os valores dependem da reserva que temos no fundo mas já variaram de R$50,00 a R$1.500,00.

Quais as principais dificuldades que a pandemia trouxe para o desenvolvimento do projeto?

A pandemia nos fez reinventar praticamente todas as nossas ações. Primeiramente, vimos as condições de vida das famílias cair drasticamente e em resposta optamos por iniciar uma ação que nunca havíamos feito, pois trata-se de uma ação de cunho mais assistencialista e não de assessoria, que é a nossa campanha de solidariedade para distribuição dos kits quarentena. Depois percebemos um agravamento de questões psicológicas, como ansiedade, medo, e criamos um grupo online de apoio para as participantes, em que ocorrem rodas de conversa sobre esses e outros temas. 

Um grande desafio para o nosso trabalho foi tornar as nossas atividades, essencialmente presenciais – nossos encontros e oficinas com as mulheres – em atividades virtuais. Além das dificuldades tecnológicas em contextos de recursos escassos (a internet pegar, o celular funcionar e por aí vai) tem a grande dificuldade do engajamento quando as atividades são remotas. Por isso, com o apoio de uma empresa parceira, estamos também produzindo vídeos que auxiliam na compreensão das atividades que desenvolvemos durante os encontros online. Até mesmo as formas de garantir a continuidade do projeto têm sido reinventadas, pois a nossa arrecadação de recursos também sofreu com a pandemia. Para isso, estamos investindo na expansão da nossa rede de apoiadores mensais e buscando parcerias.

Vocês estão com um projeto para desenvolver kits quarentena. Conta um pouco mais sobre isso?

A campanha de solidariedade surgiu em abril de 2020 quando identificamos que muitas famílias ficariam praticamente sem renda logo no início da pandemia. Em 2020 conseguimos distribuir os kits mensalmente de abril a dezembro nos três territórios em que atuamos, realizando parcerias com ações locais e com outros projetos coordenados por mulheres como o projeto Cores e Sabores que monta e distribui kits que vão além das cestas básicas, pois incluem também produtos de hortifruti, temperos, etc, pensando na saúde alimentar das famílias. Agora, com o novo agravamento da pandemia, retomamos a campanha. A meta é conseguir arrecadar recursos para distribuir os kits por pelo menos 3 meses. Desta vez, incluímos nos kits as máscaras PFF2 visando a segurança, principalmente das pessoas que precisam utilizar o transporte público.

Foto: Lucas Monteiro

Quem quiser colaborar com ele, como fazer?

Um dos principais meios de sobrevivência do projeto tem sido o apoio constante de pessoas que acreditam no nosso trabalho! Através da nossa plataforma de apoiadores mensais, www.catarse.me/arquiteturanaperiferia/, qualquer pessoa pode contribuir mensalmente com o valor que escolher, de forma rápida e segura. Esse apoio recorrente é fundamental para que possamos planejar ações a longo prazo e garantir que o projeto continue alcançando cada vez mais mulheres.

Gostou do projeto? Se puder, colabore ou apresente para pessoas do seu círculo, que possam ajudam com doação mensal ou, ainda, sendo voluntário!

2 Comentários  |  Deixar Comentários

Comentários:
  1. Fernanda Dubal    15/04/2021 - 17h43

    Para um trabalho de impacto como esse, guiado por mulheres determinadas como o time da ANP, só o céu é o limite ! Muito feliz de apoiar esta causa, e de ver cada vez mais o projeto ganhar projeção!

  2. Nattany Martins    19/04/2021 - 14h13

    Que projeto incrível! É muito bacana que ele tenha ganhado esse espaço aqui no Chata. Vou mandar essa postagem para as minhas amigas, vai que tem alguém em condição de voluntariar ou ajudar de alguma outra forma?

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