Uma das coisas mais especiais que o jornalismo proporciona é a oportunidade de ter contato com pessoas de diferentes origens, com histórias muito particulares e que, de alguma forma, nos ensinam e nos inspiram. Quando um jornalista se vê diante disso, ele nunca sai o mesmo da entrevista. Sai mais rico. E foi assim que a Tati, nossa editora, se sentiu após entrevistar a Duda e sua filha Helena, proprietárias da marca de joias Mina.
A Mina é uma empresa que já nasce com um papel social e político muito fortes e representativos. A Duda é A pai da Helena. Assim mesmo, com o artigo feminino precedendo o substantivo pai. Ela é uma mulher trans que, após longos anos se sentindo em um corpo estranho, mas sem a representatividade para se reconhecer, finalmente se auto identificou e, em 2017, passou a se declarar, inclusive para sua filha, como a mulher que é.
E foi em meio a esse turbilhão de mudanças que, juntamente com uma nova mulher, nasceu também uma empresa. Assim como cada peça criada pela Duda é única, assim também é a relação entre pai e filha. Infelizmente, uma relação que é uma jóia rara, em um país em que mulheres trans são levadas à marginalidade e jogadas de seus próprios berços.
Esperamos que vocês se inspirem com esse papo repleto de amor, representatividade, luta e talento.
Nasce uma mulher e uma marca
Duda: “A Mina surgiu de uma conversa entre nós duas e isso no meio de um momento de vida importante no aspecto pessoal e profissional. Eu vinha fazendo cursos de jóias e saí do emprego que eu tinha e, nesse mesmo momento, estava me reconhecendo no ponto de vista de identidade de gênero e foi quando comecei a minha transição em 2017. As coisas foram se encaixando enquanto passava por esse processo todo. E assim surgiu a Mina, cujo nome representa a fonte de grande parte das nossas matérias primas, a cerâmica, o cobre, os cristais… Além disso, é o jeito que chamamos hoje em dia mulheres que estão próximas de nós! De um jeito empoderado, descontraído, quase como se estivéssemos nos referindo a uma irmã”.
Helena: “Criar a Mina também foi uma forma de apoiar a Duda nesse processo. Somos um dos poucos exemplos de famílias LGBT felizes. Todos os conteúdos que vemos nesse quesito são tristes, pesados, de rejeição e violências e é importante expor esse exemplo positivo que nós duas representamos para dar um respiro de otimismo, de que as coisas vão ficar bem”.
Conhecendo as peças da Mina
São três linhas de produção:
“As joias, que são pintadas com fogo. É usado um maçarico para oxidar intencionalmente o cobre, nossa matéria prima, e assim criar cores e padronagens únicas e muito especiais! Fazemos também uso de pedras preciosas muito bem selecionadas colocadas manualmente nas peças”.
“Temos ainda os caleidoscópios, que são construídos manualmente pela Duda. Temos dois modelos: um de cobre, cerâmica e pedras preciosas e o outro de materiais recicláveis. Ambos formam mandalas maravilhosas que nunca se repetem”.
“E por fim, as estampas, que são criadas do zero a partir da fotografia das mandalas dos nossos caleidoscópios. Com base nessas imagens, criamos padronagens e editamos as cores para que a gente possa obter uma estampa linda para projetos de moda e decoração”.
Papel social e político
Duda: “Quando se trata de uma marca de uma mulher trans, ela por si só já nasce política e não de forma partidária, porque ultrapassa isso. Se a gente partir para os dados, 90% das travestis e mulheres trans estão na prostituição e apenas 4% estão trabalhando em outras áreas, sendo a maior parte em subempregos. As mulheres trans têm uma potência muito grande e que é negada pela sociedade. É muito importante a gente expor isso e a necessidade de mudanças; é parte do nosso propósito”.
Helena: “Buscamos na Mina conversar e educar nosso público também sobre feminismo e diversidade, especialmente a questão de transgênero. Dedicamos diversos pontos da nossa marca para reforçar esta prioridade. O nome de nossos produtos é homenagem a mulheres trans históricas. Nossa produção de conteúdo no Instagram é também muito voltada para este assunto. Temos a iniciativa de conversar com quem tem interesse em saber mais sobre essas questões. Um dos nossos quadros queridos é o #minacall, no qual ligamos para pessoas ou familiares de pessoas trans que querem um amparo e aconselhamento da Duda”.
Relação de pai e filha
Helena: “Eu sempre tive uma relação muito boa de pai e filha com a Duda, mas a gente não conversava muito. E eu sempre fui ligada em questões de igualdade, diversidade e mudanças de realidade dentro das minhas perspectivas. Quando a Duda me contou que era uma mulher trans, foi como se ela entrasse para o meu time. Passamos a lutar juntas pelas mesmas causas. Tenho muito orgulho e admiração por ela ter aberto mão de todos os privilégios que tinha enquanto homem hétero branco e cis para mudar completamente de posição dentro da pirâmide social”.
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