Paris Fashion Week nos meus olhos

Não sei explicar ainda qual é a sensação quando me sento pra assistir a um desfile. Há quem reclame das longas esperas, atrasos, correrias… Pra mim tudo isso passa quando as luzes se apagam. E retiram, quando existe, a cobertura de cima da passarela. O silêncio, após todo o burburinho, agora impera. E numa primeira batida da música as luzes se acendem, num brilho que quase cega.

Encontrei uma stylist de Los Angeles e ela me descreveu exatamente essa mesma sensação. E que é justamente isso que a faz, ano após ano, encarar uma (aliás, várias) fashion week.

Em Paris, diferentemente do que acontece nas semanas de moda no Brasil, os desfiles não acontecem em um só lugar, mas na cidade inteira. E desfile apos desfile você vê pessoas atravessando a cidade atrás do próximo. É uma garagem no 4ème, um galpão lááá no 19ème. Um hotel luxuoso do 8ème, uma tenda num jardim no 2ème, um museu no 16ème. E nisso as pessoas se misturam por aí. A gente esbarra em modelos no metrô. Fashionistas pela Rivoli. Estudantes de moda num café. Jornalistas num bar do Marais.

E quando menos se espera a gente leva um susto ao ver Anna Dello Russo montadíssima. A gente sorri com o sorriso sempre no rosto da Taylor Tomasi Hill. Fica com uma vontaaade de abraçar a lindeza da Kate Lanphear e morre de medo da altura do topete da Suzy Menkes. E ainda ganha um ‘boa tarde’ simpaticíssimo da Costanza Pascolato.

As ruas também se colorem com detalhes, como as meninas da American Apparel e seus balões, soltas por aí. Vemos pessoas e pessoas sendo fotografadas. Experimenta sensações incríveis como dar de cara com a cenografia da Maison Martin Margiela (cobriram a sala onde foi o desfile, num hotel, todo com um plástico branco, a la Dexter!). Fica feliz ao ver tantos brasileiros falando português no desfile do Pedro Lourenço, e por um singelo instante, se sente em casa.

Sei que pra alguns é só um trabalho. Pra alguns, um mundo de glamour. Pra mim, talvez, um pouquinho dos dois. Posso até parecer deslumbrado, mas não: tento ver o mundo com admiração, e talvez por isso eu fico realmente impressionado com tudo. Entre muitos egos e tanta grandeza, me vi ali, sorrindo entre os pouquinhos desfiles que pude assistir, exercitando minhas palavras em uma entrevista que dei pra uma rádio daqui, não fazendo carão quando alguém pedia pra tirar uma foto minha. E no fim de tudo me senti grato por ver tanta coisa, pelas ruas da cidade mesmo, sem saber se algum outro dia terei a oportunidade de viver outra Paris Fashion Week.

No fim de cada desfile as luzes se apagam, acendem e o designer acena feliz. As luzes aqui hoje se apagam até a próxima estação. É um começo de outono gélido em Paris. Mas as cores da primavera e do verão iluminaram a cidade. Ao menos por uma semana.

PS da Lu: Gui é amigo, fashionista, designer e chef e costuma escrever na tag “Pra Eles”. Mora em Paris e me matou de vontade de estar na capital francesa com esse texto delicioso que enviou pra gente!